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domingo, 27 de dezembro de 2009

Desmatamento e enchente deixam Pantanal sob risco

Sérgio Adeodato, para o Valor, de São Paulo
21/12/2009

Por conta das chuvas fortes que já ocorrem em dezembro, o Pantanal deverá ter em 2010 uma das maiores cheias da história, segundo estimativa preliminar do Modelad, sistema de monitoramento da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). "O maior volume de água vai agravar a destruição do rio Taquari, hoje um dos maiores desastres ambientais do país", adverte Emiko Kawakabi de Resende, pesquisadora que há mais de 20 anos estuda os impactos na planície pantaneira. O problema é o intenso assoreamento, causado pelo desmatamento e consequente erosão do solo nas propriedades agrícolas e de criação de gado que ocupam a cabeceira dos rios, no cerrado das partes altas de planalto, no entorno do Pantanal. "A planície está sendo entupida pela terra que há décadas escorre das fazendas rio abaixo, com sérios efeitos econômicos, sociais e ambientais", afirma a pesquisadora. Ela defende a execução imediata de obras para consertar os estragos: "É fundamental manter a pulsação do Pantanal, pois o ciclodas águas rege a vida e a economia da região".


Destruição do rio Taquari, agravada pelas chuvas, ameaça a produção agrícola da região


Em sua opinião é possível recuperar o ambiente e ainda gerar bons negócios na produção agrícola. O foco das atenções é o rio Taquari. Com 801 km de extensão, é o maior afluente do rio Paraguai. A nascente se localiza a 800 metros de altitude, no Planalto Central, em Mato Grosso, compondo uma bacia hidrográfica de 65 mil quilômetros quadrados, a maior parte dentro da planície que compõe o Pantanal. A erosão mudou o fluxo natural das enchentes e vazantes. Transformou uma grande extensão de área em deserto. Em outra parte, 5 mil quilômetros quadrados da planície ficaram permanentemente alagados. O lugar é cemitério de árvores afogadas - uma paisagem lunar, chamada "paliteiros". A produção pesqueira desabou. Sem alternativas, pescadores deslocaram-se para a periferia de cidades maiores, como Corumbá, onde registra-se aumento da violência e da prostituição.

A inundação permanente expulsou o gado, causando grandes prejuízos para os fazendeiros, que viram suas propriedades submergirem. Cerca de 80 médias e grandes fazendas foram atingidas. Quem não faliu arrendou áreas longe dali em condições de produzir. "Tive de comprar terras para deslocar os animais", conta o proprietário Pedro Lacerda, presidente do Sindicado Rural de Corumbá, que teve o rebanho reduzido à metade depois que 60% da propriedade ficou inundada.

Em 30 anos, o prejuízo referente ao gado que deixou de ser comercializado em função dos impactos no rio Taquari atingiu R$ 1,2 bilhão. Além disso, R$ 50 milhões de ICMS deixaram de ser recolhidos. Os números constam de um amplo relatório elaborado pela Embrapa, a partir do qual o governo federal instituiu em 2008 um grupo de trabalho interministerial para apontar soluções. A implantação das medidas está hoje sob a responsabilidade do Ministério da Integração Nacional, que aguarda o novo Orçamento. "As intervenções demoram, porque as autoridades federais acham mais bonito falar da Amazônia", lamenta o senador Delcídio do Amaral (PT-MS), que tentará uma emenda para conseguir R$ 54 milhões do Orçamento, dentro do Plano Plurianual, para o início das obras. "É um trabalho que demorará em torno de seis anos e custará cerca de R$ 800 milhões", prevê o senador.

"É uma intervenção cara e gigantesca, que dever ser contínua, ou seja, não pode parar", diz o engenheiro Andrelino Novazzi, da Transrio, empresa que prestou serviços na recente obra da calha do rio Tietê, em São Paulo, e foi convidada a dar um parecer sobre o caso do Taquari. O estudo, concluído em novembro, foi entregue ao governo estadual para servir de base ao processo de licenciamento ambiental da obra. O relatório compilou trabalhos da Embrapa e de outras instituições e considerou diferentes pontos de vista e interesses. As medidas incluem fazer dragagens para retirar areia do leito do rio, reflorestar as margens e construir canais para garantir o ciclo de vazão e enchentes em equilíbrio. Novazzi ressalva: "Nada adiantará se não houver ações para as áreas de cultivo do planalto, diminuindo a areia que chega ao rio e, através dele, ao Pantanal".

A obra é polêmica. "Mexer pode piorar", alerta o pesquisador Paulo Boggiani, da Universidade de São Paulo. Sem reflorestar as partes altas, "a solução será paliativa". Recente estudo realizado por cinco organizações ambientalistas - Conservação Internacional, WWF-Brasil, SOS Mata Atlântica, Avina e Ecoa - detectou que restam apenas 40% da vegetação original em toda a bacia do rio Paraguai, incluindo a planície inundável que constitui o bioma do Pantanal propriamente dito e o planalto de Cerrado em seu entorno. A situação é mais grave no planalto, onde 58% das matas estão comprometidas. A situação preocupa porque dois terços da água que circula no Pantanal nascem nas áreas agrícolas do Mato Grosso. Nessa região, boas práticas como curvas de nível e plantios diretos começam a ser adotadas. Mas, segundo os pesquisadores, faltam avanços na pecuária, atingida pelo empobrecimento dos solos

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Ariana Huffington: A vitória dos lobistas

Atualizado em 20 de dezembro de 2009 às 16:57 | Publicado em 20 de dezembro de 2009 às 16:48

da Ariana Huffington, do blog Huffington Post:

Esta semana, a revista Time escolheu o presidente do Banco Central Ben Bernanke como "Homem do Ano". A revista disse que a escolha "não era um prêmio", mas o reconhecimento daquele que mais influenciou a pauta de notícias durante o ano passado -- para o bem e para o mal. Baseado naquele critério, a Time deveria, sem dúvida, ter escolhido os lobistas de Washington -- porque nenhuma pessoa ou grupo teve mais influência em 2009. Depois de uma campanha presidencial inspiradora em que prometeu enfrentar os "interesses especiais", os lobistas prepararam seus músculos (e suas carteiras) e mostraram quem realmente manda em Washington. Os lobistas ganharam na reforma do sistema de saúde, na reforma bancária, na reforma financeira, na questão dos preços de remédios e nos juros do cartão de crédito, para citar apenas algumas. E todas as vezes em que venceram, o povo estadunidense perdeu. É hora de a Time escolher de novo. Os lobistas: as verdadeiras "pessoas do ano".

O Huffington Post descobriu que os lobistas gastaram 600 milhões de dólares para influenciar a reforma do sistema de saúde proposta pelo governo Obama.

A reforma prometia uma espécie de SUS americano. Em vez disso, resultou na exigência de que todo estadunidense compre plano de saúde privado, sob risco de ser penalizado...

Os lobistas usaram 278 ex-assessores parlamentares em seu esforço. Não se trata, obviamente, de uma característica apenas da "democracia" dos Estados Unidos.

No Brasil, o Johnny Saad liga para o Lula, que liga para a CUT, que ajuda a mudar o processo decisório da Conferência Nacional de Comunicação. E o dinheiro do BNDES? E as parceiras público-privadas, aquelas em que nós entramos com o dinheiro e eles com as contas bancárias?

Depois que a "democracia representativa" falir vão culpar o Hugo Chávez. O pior é constatar que quem sai ganhando com a falência da democracia representativa, nos Estados Unidos, são os republicanos, que governam com a mídia, os lobistas e as tropas de choque da extrema-direita.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Plantas do cerrado vieram de todo o Brasil, registra DNA


Folha de S. Paulo
14/12/2009 - 10:02



A vegetação que ocupou o cerrado saiu de todos os cantos do Brasil. Escolha uma espécie qualquer e ela pode ter origens tanto na Amazônia quanto no sertão nordestino ou nos pampas gaúchos --a flora é um mosaico de origens muito diversas.

Justamente por ter se formado pegando um pouco de cada lugar distante, o cerrado possui um biodiversidade tão grande.

Os cientistas brasileiros que descobriram isso, fazendo análises no DNA das plantas, ficaram surpresos, porque, em geral, ecossistemas não se formam assim.

Para ajudar a entender como eles surgem, Marcelo Simon, biólogo da Embrapa em Brasília e um dos autores do estudo, dá um exemplo: a vegetação da cordilheira dos Andes.

Quando os Andes se elevaram, há milhões de anos, foram ocupados, em seguida, por uma vegetação adaptada à nova temperatura (regiões altas são mais frias). Ela veio dos climas temperados da América do Norte e migrou como um todo.

Ao descobrir que as origens do cerrado eram variadas, os cientistas ficaram intrigados. Por que a mistura ocorreu?

A resposta começa pela ideia de que, se uma planta "quiser" viver nos Andes, terá de vencer o frio. Mas, se tentar se espalhar pelo cerrado, o maior problema será o fogo que aparece nas épocas quentes --o clima seco permite que incêndios naturais ocorram sempre.

Mas o fogo, os cientistas descobriram agora, não é uma barreira muito grande, ao contrário do frio. As plantas têm facilidade para criar resistência a queimaduras. Vencer o frio requer uma adaptação prévia a ele, em outro bioma. Já o fogo não é um inimigo tão grande -uma planta pode se acostumar fácil, venha de onde vier.

Vegetação casca-grossa

O programa de treinamento das plantas para lidar com o fogo consiste, basicamente, em dois pontos: é preciso virar casca-grossa e não ter medo de ir parar debaixo da terra.

Quando o fogo surge, a casca resistente e grossa até queima, mas ela não deixa o interior da planta ser danificado -é como se a planta tivesse uma pele tão grossa que pudesse passar pelo meio de um incêndio.

A outra adaptação é ter raízes bem grossas. Faz sentido: com isso, a maior parte da massa da planta fica por baixo do solo. Aí, mesmo que passe um apocalipse de fogo pela região onde a coitada está, ela vai sobreviver.

São características relativamente simples. Então, poucas gerações após a colonização, as plantas sobreviventes já estavam adaptadas ao cerrado

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009


sábado, 12 de dezembro de 2009, 16:22 Online

Ivan Marsiglia - O Estado de S. Paulo

‘A várzea pertence ao rio'

Em momentos críticos, como temporais, Tietê e Pinheiros irão sempre buscar o que lhes foi tirado

Ivan Marsiglia - O Estado de S. Paulo


WILTON JUNIOR/AE


ODETTE – 'Os automóveis foram uma opção imposta goela abaixo’

Pé d’água, mesmo, não foi. Mas uma chuva compacta e homogênea, a mais volumosa em dois anos, caindo sobre quase toda a cidade durante 24 horas. E a terça-feira da maior metrópole brasileira amanheceu parada e submersa. Foram registrados 105 pontos de alagamento, entre eles as marginais dos Rios Pinheiros e Tietê. E seis pessoas morreram em deslizamentos de terra – no caso mais grave, em Santana de Parnaíba, quatro irmãos de uma mesma família, três deles, crianças.


A tragédia deixou “constrangida e indignada, mas não surpresa” a geógrafa paulistana Odette Carvalho de Lima Seabra. Autora de Os Meandros dos Rios nos Meandros do Poder: O Processo de Valorização dos Rios e das Várzeas do Tietê e do Pinheiros, apresentado como tese de doutorado na USP em 1987, a professora considera corretas as medidas tomadas nos últimos anos para mitigar as enchentes. Mas o sistema já está próximo de seu limite.


Colega do célebre geógrafo baiano Milton Santos, morto em 2001, Odette diz que as políticas públicas destinadas às várzeas dos Rios Pinheiros e Tietê tiveram um protagonista privado: a São Paulo Tramway, Light and Power Company – empresa de capital canadense que energizou o processo de urbanização brasileiro nas décadas de 30, 40 e 50. Afirma que as várzeas onde o governo do Estado assenta obras de ampliação das marginais são parte integrante dos rios – que as requisitam de volta, nas enchentes. E aponta que a solução definitiva passa por mudanças profundas no modo de vida na cidade.


As cenas de inundação na terça-feira surpreenderam a senhora?
Fiquei, como todo o mundo, constrangida e indignada. É insuportável saber que somos obrigados a viver essas tragédias ano após ano. Mas não posso dizer que as imagens me surpreenderam. As medidas que vêm sendo tomadas desde 1999 são corretas. Mas ocorre que a capacidade do Tietê está no limite. A interligação de bacias necessária ao abastecimento de São Paulo faz com que, por exemplo, 33 metros cúbicos por segundo da bacia hidrográfica do Rio Piracicaba caiam aqui.


O solo impermeável da cidade é uma das causas das enchentes?
Também. As chuvas, a cada ano, são mais torrenciais. Há dados mostrando isso. Temos um volume aumentado de água na rede, impermeabilização crescente do solo e ocupação desordenada do rebordo externo da bacia. Eu me refiro à zona leste de São Paulo, à vertente sul da Cantareira, essa porção de colinas, onde têm ocorrido desastres. O solo, lá, é de rigolito, fixo apenas pela vegetação. Com o desmatamento, ainda que seja uma simples abertura entre as casas, tudo fica sujeito a deslizamentos. Além disso, por gravidade, os detritos chegam à calha do rio. Por isso o Tietê tem um trabalho de desassoreamento que não pode parar.


É difícil imaginar Paris sem o Sena, Londres sem o Tâmisa, Viena sem o Danúbio. Que falta faz um rio a uma grande cidade?
O rio é uma referência de lugar e de espaço, integra a identidade de um povo. Quando ele está perdido, como no nosso caso, é uma ausência importante. Vi um documentário que mostrava como os brasileiros voltaram as costas para os rios. Há quem cruze o Tietê quatro vezes ao dia sem se dar conta.


Seu doutorado mostra como as estratégias de ocupação das margens do Tietê e do Pinheiros foram definidas a partir dos interesses da Light. Como isso se deu?
Esse é o rescaldo negativo do imperialismo das grandes empresas nos países subdesenvolvidos. A Light, da qual hoje pouco se fala, provocou uma grande mobilização no Brasil das décadas de 30, 40 e 50. A companhia era uma espécie de polvo, atuando em diferentes esferas. Foi tão importante na história de São Paulo que passou a integrar o imaginário. Aparecia na música, na poesia, na retórica popular. Havia até uma expressão: “E eu com a Light?”

Como ela atuava?
No final do século 19, a Light tinha o monopólio da geração e difusão de hidreletricidade no mundo. E entrou no Brasil da mesma forma que na Guatemala, no México e mesmo em Barcelona, na Espanha. Um grupo econômico se mobilizava para levantar fundos, sob a bandeira da rainha da Inglaterra, e obtinha exclusividade no mercado. Em São Paulo, primeiro atuou no transporte urbano. Em 1899, ganhou uma concessão interessante, para a construção de bondes elétricos, embora não houvesse eletricidade na cidade! Em 1901, já tinha construído uma hidrelétrica, em Santana de Parnaíba: mandava energia para movimentar os bondes, iluminar vitrines, ruas, etc. A Light tinha uma racionalidade que a administração pública e a sociedade local não acompanhavam. E um ideário muito forte de progresso. Sempre digo aos meus alunos: isso foi importante, a energia elétrica é uma revolução, muda a vida cotidiana e a noção de tempo na cidade. Só que aqui a Light montou um Estado dentro do Estado.

E inverteu o curso do Rio Pinheiros.
Isso foi em novembro de 1928. A inversão era para canalizar a água para uma represa que já funcionava no sopé da serra, em Cubatão. Pelos decretos, para compensar seus investimentos, a Light ganhava o direito de desapropriar imóveis de toda a várzea do Rio Pinheiros, “para fins de utilidade pública”. O que sempre foi prerrogativa do governo central. Essa área seria delimitada por uma tal “linha da máxima enchente”, que encontrei em mapas confeccionados no Canadá, ainda feitos de pano. Tomaram como referência a famosa enchente de 1929, a maior que houve em São Paulo. E tudo passou a ser da Light, de onde a água chegou até o leito do rio. Entendi nisso a demarcação de um território. E nós, que estudamos geografia, sabemos o que o território é: uma jurisdição de poder. Daí para a frente, um fiscal de terras passou a proibir as pessoas de usarem a várzea, fosse para jogar bola ou levar cabras para beber água.

E como a companhia conseguiu o direito de revender essas terras de ‘utilidade pública’ depois?
Eles fizeram acordos com os expropriados, sempre estipulando critérios e preços. Houve movimentos de resistência de moradores, que foram ao presidente Getúlio Vargas, até que ele se manifestasse contra. Mas a essa altura tudo estava sob litígio e começou o movimento dos advogados, ganhando cobres às custas dos expropriados.


A proximidade das pistas do leito dos rios nas marginais é muito criticada por urbanistas. Por que elas foram parar lá?
Nos anos 60, com o Plano de Metas, foi preciso abrir espaço para circularem os automóveis. Tem início outro padrão e modo de vida. O Estado planejou as marginais e pressionou a Light: “Agora, vamos intervir, porque é preciso modernizar a estrutura de transporte do País”. Veja que, até então, em São Paulo andava-se de carroça, bonde ou barco – cerca de 500 deles transitavam no Tietê. Com a entrada da indústria automobilística, o transporte por rio desaparece e o ferroviário entra em declínio. Os bondes saíram de circulação não porque as pessoas não mais os quisessem, mas porque outra opção de transporte foi imposta goela abaixo.

É por isso que senhora diz que ‘os enigmas do funcionamento da Bacia do Alto Tietê traduzem o modus operandi da modernização geral da sociedade’?
Se a gente tem noção da história, fica ingênuo discutir quem fez as marginais e foi responsável por esses equívocos. Mas, com o partido rodoviário sendo adotado como modalidade de transporte nacional, a sequência só poderia ter sido essa. No caso da Light, é preciso levar em conta também que éramos uma República nova, sem conhecimento de estruturas jurídicas, com uma sociedade pouco aparelhada para negociar com o trust. Não que, por princípio, as pessoas fossem boas ou más. É um processo.

Os moradores mais antigos da cidade têm a memória de um Tietê onde se nadava, praticava remo. Como se transformou em uma ‘cloaca a céu aberto’, como a senhora diz?
Em minha tese, entrevistei um ex-barqueiro, de 96 anos, que passou a vida recolhendo areia do fundo do Tietê para vender. Ele me contou que, em 1935, já não podia mais beber a água do rio, e a levava de casa. Perguntei por quê. “Desde que a Nitroquímica se estabeleceu em São Miguel os peixes começaram a morrer e a gente não podia mais beber a água.” Ainda na década de 20, quando a Light obteve o monopólio do Rio Pinheiros, as autoridades decidiram deslocar os barqueiros para o Tietê. Houve processos na Justiça e, num deles, um barqueiro questiona: “Já não dá para tirar areia entre a Ponte Pequena e a foz do Rio Pinheiros, porque o fundo do rio é lodo e esgoto”. A contaminação é um processo que vem com a urbanização. Seus efeitos deveriam ter sido domesticados ao longo do tempo, mas ela foi avassaladora e não pudemos raciocinar sobre os problemas que a industrialização trazia.

Dezenas de projetos de ampliação do leito e embelezamento das margens foram realizados em São Paulo, sem que os rios fossem de fato recuperados – como ocorreu com o Tâmisa, em Londres. Por quê?
Primeiro, a gente continua poluindo o Tietê. A poluição industrial foi controlada, mas a doméstica, não. Há um problema de infraestrutura difícil de enfrentar. É muito caro fazer interligação de esgotos. Às vezes, os espíritos românticos maquiam as margens, produzem discursos... Mas a solução ainda está distante.


Não será porque obras sanitárias têm pouca visibilidade política?
Também. E porque a necessidade cresce em ritmo geométrico. Um grande problema hoje, por exemplo, é a capacidade de escoamento. Já temos 43 piscinões que, juntos, comportam o volume de um Tietê. Mas eles não bastam. É igualmente simplório atribuir o problema à sujeira dos bueiros. Lidamos com o fardo pesado dessa longa história de urbanização.


A recente ampliação das pistas nas marginais é uma boa ideia? O especialista em drenagem urbana da Poli-USP Mario Thadeu Leme de Barros disse que será preciso ‘renaturalizar as bacias’ e, em 20 ou 30 anos, acabar com as marginais.
Não fiz coro às críticas sobre a ampliação das marginais porque enfrento engarrafamentos todo dia e sei que alguma coisa tinha que ser feita. No plano de macrodrenagem existe uma proposta séria de recuperação das várzeas, mas que exige investimentos extraordinários. No Canadá isso foi feito: restituíram a várzea ao rio, pois ela é parte dele, pertence a ele. Por isso, nas enchentes, o rio a requisita de volta. Lá construíram jardins que, quando têm de encher de água, enchem. A solução definitiva é pensar em um novo desenho urbano.

A senhora acredita que algum dia possa haver um pacto político, social, ambiental e econômico para recuperar de fato esses rios?
Se um dia alguém levantar essa bandeira e conseguir o mínimo que seja, estará fazendo muito. Devolvendo as várzeas ao rio teríamos uma outra cidade – e isso só acontece com uma mudança no modo de vida. Para começar, exigiria menos automóveis, que regem hoje as formas de ocupação de espaço e regulação do tempo na cidade.


Ambientalistas dizem que ‘o carro é o novo cigarro’, um símbolo anacrônico de status, a ser banido.
Seria bom mesmo. Mas como agir numa sociedade desse tamanho, com milhões de pessoas circulando para cima e para baixo? Uma pesquisa que fizemos em Parelheiros, no extremo sul da cidade, mostrou que existe gente nascida lá, que já é adulta e nunca saiu da região. Não conhece nem o centro. Chamo isso de confinamento dos pobres. Com tantas carências, como arcar com o custo social de liberar as várzeas?



domingo, 13 de dezembro de 2009

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A bolha oculta

do petróleo

Coluna Econômica - 02/12/2009

Ainda está para ser contada toda a história da máquina especulativa que implodiu no ano passado, levando de roldão o sistema financeiro norte-americano, mergulhando a economia mundial em recessão e marcando oficialmente o fim da hegemonia econômica norte-americana.

Embora o mundo já caminhasse para a multipolaridade – EUA, Ásia e Europa – a crise amplicou a percepção da perda de influência relativa dos Estados Unidos. Principalmente, marcou o fim do predomínio absoluto de Wall Street sobre as finanças mundiais.

***

Muito se falou da especulação montada em torno do subprime – os créditos hipotecários de alto risco. Pouco se falou sobre o movimento especulativo em torno do maior dos mercados, o petrolífero.

A crise de Dubai talvez levante um pouco o véu de mistério que recobre essa área – onde os valores negociados ascendem a trilhões de dólares.

***

Há suspeitas de que, em torno de novas empresas petrolíferas que surgiram no Oriente Médio – basicamente nos emirados – tenha havido um jogo envolvendo grandes petolíferas e grandes bancos de investimento visando fazer explodir as cotações de petróleo.

O jogo mais pesado era no mercado futuro. Só que a tendência do mercado futuro dependia das cotações no mercado spot (à vista). Há suspeitas de que tenha ocorrido uma operação que, no crack do mercado acionário brasileiro, em 1989, era chamada de “zé com zé”.

A empresa A vendia petróleo para a empresa B por determinada cotação. Em seguida a empresa B vendia para a C por um preço maior. Manipulada a tendência de alta, os especuladores corriam no mercado futuro e tornavam a tendência de alta mais aguda.

***

A principal suspeita sobre o coordenador desse jogo recai sobre o Goldman Sachs, uma das instituições símbolo desse período de esbórnia.

E aí entra um dado relevante, que foi o papel exercido pelo Departamento de Economia do banco, em um jogo de manipulação que só tem precedentes na fase que antecedeu o estouro da Nasdaq.

Em julho, as cotações do petróleo spot já batiam em 140 dólares.

Nesse jogo, o primeiro passo é a criação de um “guru”. Foi o que a mídia norte-americana fez com Arjun N. Murti, 39 anos, especialista da Goldman para assuntos de energia. Apresentado como infalível, o inefável Murti previu que em breve bateria nos 200 dólares nos dois anos seguintes.

***

Murti tinha um histórico de acerto. Em 2005, com o barril a 40 dólares, previu um ciclo de alta que elevaria a cotação para 105 dólares. Não tomava por base os fundamentos da economia mundial mas, provavelmente, o efeito combinado do jogo especulativo com as previsões dos “gurus”.

***

A crise derrubou todas as previsões amalucadas e criou um rombo – que até agora só apareceu nessa crise de Dubai. É impossível em um mercado altamente especulativo e violentamente alavancado, como o do petróleo, que as cotações pulassem de 40 para 150 dólares e voltassem para patamares de 50, 60 dólares sem provocar rombos profundos nos jogadores.

Ainda não se sabe a extensão do rombo. Em breve se saberá.

PIB da França cairá menos que da Europa

"A França terá a recessão mais baixa dos países europeus", afirmou seu presidente, Nicolas Sarkozy. Para ele, a economia do país vai desacelerar entre 2,1% e 2% - estimativas preliminares traziam queda de 2,25%. De acordo com a União Europeia (UE), Alemanha, Itália e Reino Unido terminarão o ano com recessão acima de 4%, enquanto a Zona do Euro terá uma retração de 4%.

Europa se prepara para meta de déficit

Os países da Zona do Euro começam a se preparar para suspender os estímulos fiscais – cuja data limite é 2015. Mercados como Alemanha, França, Espanha, Áustria, Países Baixos, República Tcheca, Eslováquia, Eslovênia e Portugal têm até 2013 para ajustar seus déficits abaixo do limite de 3%. Já a França diz que trabalha com o ano de 2014 para a redução do seu déficit, mas que pode aceitar a meta de 2013 caso as condições econômicas assim o permitam.

O novo pacote japonês


Pressionado pela deflação e a alta do iene, o governo japonês vai injetar 10 trilhões de ienes nas instituições financeiras por meio da compra de ativos, como forma de estimular a economia. O país encontra-se em recuperação, mas admite que "os recentes acontecimentos financeiros internacionais e a instabilidade no mercado de divisas podem criar problemas para a atividade econômica". Este é o segundo plano de estímulo do Japão neste exercício fiscal.

Rússia estuda taxar capital especulativo


A Rússia estuda medidas de controle de fluxo de capital caso os capitais especulativos externos provoquem desequilíbrio na economia. "Pode acontecer (...) se a situação se tornar alarmante. Por enquanto, estamos estudando a situação", disse o vice-presidente do banco central russo, Alexei Ulyukayev. O presidente Dmitri Medvedev declarou anteriormente que a Rússia deve modernizar sua economia, e que não se pode depender "das oscilações e caprichos da conjuntura mundial".

Brasil se aproxima da África

O ministro das relações exteriores, Celso Amorim, declarou que o Brasil vê mais chances de avanço nas negociações sobre cortes de subsídios comerciais com países africanos do que com as economias ricas. Amorim espera assinar acordos com mais 18 países do Hemisfério Sul para o corte de tarifas em até 20%. Antes, anunciou que o Egito fechou um acordo com o Mercosul, e lançou a ideia conjunta de um bloco político e comercial do Hemisfério Sul, com Índia e África Austral (região centro-sul).

Austrália sobe juros de novo

A Austrália subiu sua taxa básica de juros pela terceira vez consecutiva. No último ajuste, o banco central elevou a taxa em 25 pontos base, para 3,75% ao ano. Novos aumentos podem vir em fevereiro e março, acreditam os economistas –não haverá reuniões do BC em janeiro. A Austrália foi um dos primeiros países a sair da crise, no início do segundo semestre. A intensidade da recuperação econômica fez com que o BC local adotasse medidas para refrear o consumo e segurar a inflação.

Blog: www.luisnassif.com.br
E-mail: luisnassif@ig.com.br


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terça-feira, 1 de dezembro de 2009


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