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quarta-feira, 3 de junho de 2009


PORQUE VIAJAR É PRECISO



Sempre achamos que sentimos necessidade de viajar para conhecer outros lugares, para descansar nossas cabeças, tão ocupadas hoje em dia com as atribulações da vida moderna, para relaxar depois de muitos meses de trabalho sem descanso, para visitar parentes que não vemos a tempos ou simplesmente para espairecer.

Outros poderiam dizer que viajam para conhecer pessoas diferentes e culturas diversas.


Tenho outra teoria a respeito.


Creio que viajamos apenas e tão somente para conhecermos a nós mesmos. Precisamos sim, dos lugares, culturas e pessoas diferentes, mas apenas para travarmos contato conosco de uma maneira que no nosso cotidiano seria impossível. O outro é, dessa forma, um espelho de nossa própria alma.

E olha que esse outro, na maioria das vezes nem está tão distante ou é tão diferente assim. Prova disto é que numa viagem coletiva, como as que têm sido propostas aos alunos do Curso de Geografia, bastou que saíssemos de nosso habitat natural (a Universidade), para que, de repente, as pessoas que nunca se falaram começassem a conversar. Novas amizades surgiram, alguns namoros, algumas discussões e, com toda a certeza, novas interações.

Muitos falaram de si para pessoas que nunca conheceram antes. “Desabafaram” como se diz. A importância disto é que os laços entre os alunos e professores se estreitaram e podem agora apontar para uma união do grupo que ajuda na solução dos pequenos problemas que possam existir.

Os seres humanos têm 99% de coisas em comum entre si, mas quando se encontram têm a péssima mania de discutir apenas sobre o 1% que sobrou de discordância.

Uma viagem ajuda a pensar nos 99% que faltam ser falados pois, estamos fora de nosso ambiente onde julgamos controlar, estamos a mercê de uma “força sinistra” que decide quando e onde parar e o que fazer, não podemos nem comer, beber, falar, fumar ou fazer xixi quando queremos. As necessidades são outras e, por isto, as atitudes também. Verificamos mudanças no nosso comportamento, nos tornando mais solidários e solícitos que o normal, ou mais individualistas. Temos de aprender, a duras penas, a não pensarmos só em nós mesmos, a levar em conta o que o outro pensa, sente e faz. Acabando por prestar mais atenção nele e em nós mesmos.

Viajar é preciso porque não há viajem, por mais distante e solitária que possa parecer, ou mais cheia de gente e conturbada, que não seja antes de tudo uma viagem para o interior de si próprio, uma viagem de auto-conhecimento.

Quero crer que aqueles que têm participado dessa série de trabalhos de campo que o curso de Geografia tem proposto, receberam uma carga enorme de conhecimento e vivência. Não apenas aqueles que os professores puderam fazê-los lembrar, ou aqueles trocados com os colegas, mas também e principalmente, aqueles que adquiriram na viagem da subjetividade.

Leandro Gaffo


DA ARTE DE EDUCAR


Em geral, temos uma tendência natural a ensinar. Santo Agostinho (350 d.C.) dizia que só falamos para ensinar (De Magistro – Os Pensadores). O problema é que isto faz com que coloquemos o outro (nosso interlocutor) no lugar de ouvinte passivo e, o pior, no lugar daquele que não sabe.

Decorre disto que, invariavelmente, nossas aulas se tornam monólogos intermináveis e cansativos, dos quais nossos educandos têm pouco ou nada a se lembrar e absorver.

Sócrates (PLATÃO – Teeteto ou Da Ciência – Unesp) dizia que ele tinha a mesma profissão de sua mãe que foi parteira e quando interpelado sobre como isto poderia proceder, explicava o seguinte:


1- dizia que o principal ofício da parteira era o de saber formar casais, ou seja, perceber quando uma união seria viável e forte a ponto de parir bons filhos. Ele não era um parteiro de pessoas, mas de almas (mentes, idéias ou razão), por isto era sua função principal perceber quando um estudante estava pronto para gerar uma nova idéia e qual era o educador adequado para fazer isto. Além disto, dizia, era também sua função emprenhar o estudante e a forma mais adequada para conseguir isto era elaborar a pergunta certa ao estudante certo.

2- O segundo passo, segundo Sócrates, era acolher a resposta oferecida pelo estudante como se ela fosse verdadeira e somente julga-la depois que o próprio estudante reconhecesse seu erro. Assim como fazia sua mãe com os bebês que avaliava e julgava se iriam sobreviver ou não.

3- Como sua mãe que deveria mostrar aos pais da criança as possibilidades de sobrevivência dela para então decidirem juntos se deveriam levar avante aquela criatura, ele (Sócrates) deveria levar o estudante que emitiu a resposta provisória a pensar junto com ele até que juntos chegassem à conclusão da improcedência/veracidade dela. A isto chama-se ainda hoje de método da prova por absurdo e é usado na matemática até nossos dias. Ex. x²+ 2=10. Para sabermos qual o valor de x, podemos ir atribuindo valores aleatórios (ou respostas provisórias) a x, até que encontremos o valor exato.

4- Julgava Sócrates, que mais importante do que encontrar a resposta verdadeira para um determinado questionamento, era trilhar um caminho onde fossem sendo rechaçadas as falsidades, já que ele não acreditava na existência de uma verdade única e absoluta. Assim, se não se chagar a uma verdade no final, pelo menos se saberá com precisão o que não é a verdade.


Notamos, portanto, que Sócrates propõe um modelo de conhecimento que não possibilita a transferência imediata. O estudante não é uma tabula rasa onde se depositam verdades a partir de uma única fonte, a saber, o professor. Ao contrário, o conhecimento é algo que já se encontra em estado latente dentro do próprio estudante e o trabalho do educador é o de saber como fazer esse conhecimento aflorar.

O leitor poderia gritar nesse momento dizendo que isto talvez fosse cabível para Sócrates e seu tempo, onde o conhecimento era para poucos e os mestres tinham poucos alunos e recebiam muito bem das famílias ricas deles. No entanto, acho que podemos fazer uma reflexão um tanto mais profunda sobre os mecanismos do aprendizado.

Será que o que aprendemos é como as coisas são, ou o melhor aprendizado é aquele onde percebemos como as coisas se originam? Ok, eu explico:

É mais fácil entender o que é uma rocha magmática sabendo quais as suas características como aspecto, dureza, grau de homogeneização, minerais constituintes etc., ou a partir da maneira que se forma e do material que lhes dá origem?

O Laércio poderia argumentar dizendo que as duas coisas são importantes e eu, apesar de concordar, redargüiria: mas qual vem primeiro? Qual é condição sine qua non, para a outra.

Ou poderíamos querer que os nossos estudantes soubessem reconhecer a especulação imobiliária apenas explicando suas características (valorização dos imóveis, renda extra da terra, mercado de incorporações etc.), sem, no entanto, nos preocuparmos com os processos envolvidos e com as intersecções entre todas as variáveis.

Nossa tendência natural é a de ensinarmos as coisas que sabemos da maneira que sabemos (ou aprendemos), mas talvez haja outras formas de aprendizado que desconhecemos, que se preocupam com o processo de identificação entre o estudante e o conteúdo que se quer ¨ministrar¨, ou seja que possibilitem ao educando acompanhar o raciocínio do educador para que ele mesmo seja capaz de julgar se estava certa sua resposta provisória oferecida à pergunta do educador. O que estou tentando dizer é que podemos encontrar maneiras de levar o estudante a perceber que está errado, sem dizer a ele que ele está errado. E isto talvez possibilite a ele criar gosto pela curiosidade, ou seja, pela insegurança de seu conhecimento.

Um filósofo alemão chamado Franz Rosenzweig (El Nuevo Pensamiento – AH, Buenos Aires) dizia que eram as certezas que o paralisavam e que ele buscava o caminho das incertezas, pois eram elas que geravam a dúvida e a vontade de saber. Bem, não é isto que queremos precipuamente incutir em nossos alunos? A vontade de aprender? Por que então ficamos querendo ensinar? Se assim o fazemos a vontade está saciada e tudo volta como era antes.

Sei bem que vivemos num mundo que foi criado para que nada mude. Aceitamos coisas por que não acreditamos que seja possível mudar. Reproduzimos posturas, pois sempre nos foi dito que era assim que as coisas sempre foram. Ora, se Sócrates (lá antes de Cristo) nos diz pela boca de Platão que isto não é verdade, devemos perceber que podemos fazer diferente.

Tudo isto serve apenas e tão somente para ilustrar as inúmeras possibilidades que temos ao nos depararmos com a tarefa dos trabalhos de campo. Temos em mãos a oportunidade de realizarmos algo realmente diferente, mas temo que tentemos fazer mais do mesmo.

O fato do trabalho de campo se dar no campo é muito importante já que deslocando o espaço (tanto de estudantes quanto de professores), temos mais chance de quebrarmos um pouco as barreiras entre as pessoas (conforme texto anterior). Além disto, temos uma boa chance de o educador não querer ser professor, ou seja, de que ele não transforme o trabalho de campo numa aula de campo.

Para tanto, temos de ter em mente que um trabalho de campo pressupõe que o estudante deverá ser aquele que descobre a partir de investigação e de informações prévias que são dadas em aula. Ou seja, quanto menos o educador de campo fala e aparece, melhor.

Para isto funcionar podem se formar grupos de interesses diversos, elaborar material de campo específico e auto-explicativo, com tarefas claras e exeqüíveis a serem executadas pelos educandos.

Fica evidente que isto não funciona com grupos muito numerosos e mal preparados para ir a campo. (não se baseiem em nossos trabalhos pregressos com três ônibus lotados, por exemplo).


Deve haver uma etapa de preparação que envolve:

1- discussão com o grupo para escolha de uma destino (dê preferência àqueles que você também não conhece, isto facilita que você não se empolgue tanto em falar e ensinar). O lugar deve ser de comum acordo (pelo menos da maioria) e contemplar os conteúdos das disciplinas específicas daquele semestre do estudante. Portanto, não se trata de um trabalho de Geologia, Antropologia ou História, mas um que abarque todas estas áreas, ainda que se resolva que haja um fio condutor ou assunto primordial.

2- Divisão de grupos de trabalhos com tarefas distintas e interdependentes como por exemplo, material cartográfico, confecção de material didático, obtenção de dados, histórico do local visitado, bibliografia, reservas em hotéis, transporte, refeição, listas de ingressos, arrecadação de valores etc.


Faça com que o seu educando seja parte atuante do trabalho de campo, pois isto fará com que ele assuma responsabilidades, sinta-se ativo do processo e interesse-se pelo resultado final do trabalho.

Esta etapa de preparação poderá ser organizada pelo professor nos horários de sábado conforme divulgados nos quadros horários, ou em outras oportunidades que poderão ser combinadas diretamente com os estudantes e os outros professores (pré ou pós aula por exemplo).

Feito todo o preparo da viajem, lembre-se de algumas dicas:

1- saia sempre no horário marcado, isto ajuda no compromisso do aluno e oferece responsabilidade, além de evitar dores de cabeça com atrasos.

2- Elabore um roteiro enxuto com possibilidade de ser estendido se necessário, do contrário, pode acontecer de você ficar devendo coisas do que prometeu.

3- O roteiro deve conter as paradas executadas e cada atividade a ser desenvolvida, isto fará com que você não tenha que explicar nada na hora em que chegar ao local, bastando orientar as pessoas para o local correto e os pontos de observação ou coleta de dados.

4- Proponha uma questão para cada parada, lembre-se do Sócrates.

5- Marque tempo para cada parada e avise os estudantes. Saia na hora marcada de cada uma para que haja tempo de todos verem todas as coisas.

6- Não fique preocupado em fechar conteúdos durante o trabalho de campo, deixe os educandos pensarem a respeito e trocarem informações obtidas. Se for um trabalho de dois dias, vale a pena fazer um bate papo de encerramento do primeiro dia, mas lembre-se, não queira interpretar por eles o que foi visto, deixe que eles digam o que viram e estimule que falem sobre as relações entre os fenômenos observados.

7- Use sempre o material cartográfico disponível, instrumentos como bússolas, GPS, altímetro e termômetro, isto cria um hábito saudável no estudante de anotar dados e pontos de passagem que podem ser usados depois para georeferenciamento e análise do fenômeno estudado.

8- Durante a viajem vá promovendo pontos de observação de fenômenos importantes sem, no entanto, querer explicar todos eles. Deixe que a curiosidade seja aguçada, permita que eles pensem por si mesmos. Não fale o tempo todo na viagem como se fosse um guia turístico, isto incomoda e impede que a atenção do estudante esteja livre para observar aquilo que ele considera importante. Claro que o roteiro poderá conter informações sobre os trajetos e solicitar observações específicas.

9- Se no roteiro for incluída uma conversa com alguém local, instrua os alunos sobre como proceder essa conversa, pedindo que se comportem como pesquisadores e poupem seus comentários e observações para um outro momento. Lembre-os que um bom entrevistador é aquele que sabe ouvir e que consegue falar a língua do entrevistado.


10-Deixe sempre um horário para o lazer no seu roteiro, ainda que isto seja apenas o tempo de uma cervejinha no bar da estrada. Lembre-se que uma das funções do trabalho de campo é promover o desenvolvimento da troca de experiências e contatos entre as pessoas, inclusive com você. Não é possível executar um trabalho que comece às 06h00 ou 07h00 da manhã e vá até às 22h00. Lembre-se que todas as pessoas trabalham e têm seus outros compromissos na segunda-feira, inclusive você, e que haverá outros trabalhos e oportunidades de determinados conteúdos serem retomados com maior profundidade. Saiba selecionar o que realmente é importante.


Cumpridas estas etapas, fica apenas faltando a aferição dos resultados obtidos:

1- promova um momento após o trabalho de campo para discussão do trabalho e do material obtido. Isto ajudará a dirimir possíveis dúvidas e promoverá a troca de conhecimentos adquiridos, enriquecendo o trabalho.

2- Faça um registro de tudo que foi vivenciado, etapa por etapa, e entregue-o à Ana Maria para que possamos apresentar às comissões do MEC. Valem fotografias, depoimentos, relatos, exemplos de material desenvolvido, mapas confeccionados, listas de presença, filmagens etc. Há 23 anos realizo trabalhos desse tipo e tenho pouquíssimos registros de tudo que fiz o que é um erro gravíssimo.

3- Promova um momento de avaliação do trabalho com a turma toda e esteja predisposto a ouvir as críticas para que num próximo trabalho você possa repensar algo que não andou muito bem. Elabore também as suas críticas quanto à postura dos alunos, comprometimento etc.


Espero que estas observações e sugestões sejam proveitosas para todos que venham a participar deste projeto e que possamos sempre crescer na direção da construção de um método de realização dos trabalhos de campo que hoje já são tão importantes no desenvolvimento de nossos educandos.


Abraços a todos


Leandro Gaffo

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